sábado, 3 de outubro de 2015

Quer crescimento de 2,3% no PIB? Reduza o tempo de descolamento dos cidadãos

Levantamento revela que país ganharia R$ 156 bilhões se congestionamentos fossem menores na Região Metropolitana de São Paulo.
Estudo mostra que se transporte público ganhar prioridade e investimentos e se as pessoas tiverem oportunidade trabalhar mais perto de casa, País terá mais riquezas. Divulgação
Estudo mostra que se transporte público ganhar prioridade e investimentos e se as pessoas tiverem oportunidade trabalhar mais perto de casa, País terá mais riquezas. Divulgação
Crise econômica, má administração das contas públicas, queda no PIB – Produto Interno Bruto, recessão…
Enquanto os olhos dos brasileiros e de todo o mundo se voltam para a economia e a busca para gerar renda, emprego e crescimento econômico se torna mais intensa, parte da resposta pode estar na mobilidade urbana.
Isso mesmo, se as redes de transportes públicos fossem mais eficientes, com metrô, corredores de ônibus e linhas locais alimentadoras melhor operadas, poderia haver uma redução no tempo de deslocamento das pessoas e um aumento de produtividade e renda, conforme comprova estudo “Mobilidade, Acessibilidade e Produtividade: Nota sobre a Valoração Econômica do Tempo de Viagem na Região Metropolitana de São Paulo” ao qual o Blog Ponto de Ônibus teve acesso.
Segundo o estudo deste ano, dos professores titulares, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Eduardo A. Haddad e Renato S. Vieira, se os tempos principais de deslocamento na região metropolitana de São Paulo fossem reduzidos de uma média de 100 minutos ao dia para meia hora por dia, haveria um ganho de geração de renda e riquezas de 2,83% no País.
A conta leva em consideração o fato de a região metropolitana de São Paulo representar em torno de 20% do PIB brasileiro.
O PIB de 2014 no Brasil foi de cerca de R$ 5,5 trilhões. Esta maior produtividade gerada pela redução do tempo nos descolamentos na região metropolitana, na ordem de 2,83%, poderia trazer R$ 156,2 bilhões a mais ao Produto Interno Bruto – mais do que é buscado pelo ajuste fiscal.
Para o cálculo, o estudo levou em consideração as horas paradas do trabalhador no trânsito com base no valor médio de R$ 12,60 o salário-hora.
Com mais tempo, o trabalhador poderia procurar uma ocupação extra, ganhar mais e consumir mais aquecendo a economia, ou mesmo se qualificando em cursos técnicos e superiores para buscar renda maior.
Assim, não é exagero dizer que Transporte Público Eficiente também é uma forma de combater a pobreza e gerar renda.

GANHA-GANHA

O estudo tem como diferencial não apenas mostrar o que o País perde com a falta de mobilidade na Região Metropolitana de São Paulo, mas o que ganha quando o transporte coletivo é levado a sério.
Por mais altos que possam parecer os investimentos em transportes públicos, como em corredores de ônibus de alto nível (BRT – Bus Rapid Transit) e metrô de alta capacidade, o País só tem a lucrar, e muito, quando as pessoas deixam os carros em casa.
O valor de R$ 156,2 bilhões ao PIB é uma atualização com base nos dados do PIB de 2014.
As simulações do estudo foram feitas sobre o PIB de 2010 e usou para cálculo de deslocamento a pesquisa de origem e destino do Metrô do mesmo ano.
Outro dado importante é de que se o tempo de viagem do trabalhador cair em torno de 27%, a produtividade sobe cerca de 15%.
Confira trecho:
“Uma redução generalizada de 27,63% no tempo de viagem corresponderia a um aumento potencial de 15,75% da produtividade dos trabalhadores da RMSP, variando de 12,6% a 18,9% por município de destino. Em termos de PIB, o ajustamento de longo prazo da economia vislumbrando tal crescimento de produtividade dos trabalhadores metropolitanos poderia gerar um PIB para o país aproximadamente R$ 110 bilhões mais elevado que o verificado em 2010 (2,83% maior). A população brasileira também perceberia um nível de consumo 2,83% mais elevado, equivalente a R$ 64,5 bilhões.
Os impactos regionais seriam diferenciados, sendo que os efeitos relativos seriam ainda mais importantes para a cidade de São Paulo e os demais municípios da RMSP. No caso da capital do Estado, ela absorveria aproximadamente 50% de todo o benefício, o que significaria um PIB por volta de R$ 54 bilhões (10,94%) mais elevado que o de 2010, e um nível de consumo de seus residentes R$ 32 bilhões (16,17%) a mais que o consumo de 2010. Quanto aos demais municípios que compõem a RMSP, o ajustamento de longo prazo aos novos níveis de produtividade resultaria em aumento do consumo em 18,53% e do PIB em 12,89% (comparado aos níveis de 2010).” – diz o estudo.

DESLOCAMENTOS METROPOLITANOS

Além de uma rede de transportes eficientes, a redução de tempo de deslocamentos e a maior produtividade dos trabalhadores também estão relacionadas à maior oferta de emprego e renda mais próxima da casa das pessoas.
Assim, a descentralização dos investimentos de indústrias, comércios e prestação de serviços, além do home office (trabalhar em casa), também são soluções para a mobilidade.
O estudo mostra que na Região Metropolitana de São Paulo, o desafio são os deslocamentos intermunicipais (de uma cidade para a outra). O número de municípios que são cidades-dormitórios ainda é alto, com uma proporção significativa de habitantes.
“São Paulo possui a maior proporção [de pessoas que trabalham e moram na mesma cidade] (95,6%); já os munícipios dormitórios de Rio Grande da Serra (34,2%), Francisco Morato (35,6%), Ferraz de Vasconcelos (42,8%) e Jandira (43%) são aqueles com as menores proporções de residentes empregados localmente. … Observa-se a grande importância desse tipo de movimento pendular para grande parte dos municípios da região metropolitana, especialmente Francisco Morato (46,2%), Ferraz de Vasconcelos (45,9%), Taboão da Serra (44,1%), Embu (40,4%), Itapecerica (37,4%), Franco da Rocha (34%) e Caieiras (33,6%). A cidade de São Paulo mostra-se menos importante para os municípios afastados ao leste da RMSP, tal como em Salesópolis (1,7%), Biritiba (3%) e Guararema (3,5%). Dentre os municípios com maior proporção dos trabalhadores que trabalham nos demais municípios da RMSP – que não trabalham nem em São Paulo nem internamente –, destacam-se Rio Grande da Serra (48,5%) Pirapora do Bom Jesus (38,4%) e Jandira (36,5%). No extremo oposto encontram-se os maiores municípios da região metropolitana, isso é, Guarulhos (1,2%) e São Paulo (2,5%). Finalmente, também é importante observar os municípios onde parte dos trabalhadores se deslocam para os demais municípios do Estado de São Paulo, sendo o caso mais notável o de Francisco Morato, onde essa proporção chega a 8,3%. Outros municípios em que essa proporção ultrapassa a linha de 5% são: Cajamar (6,8%), Franco da Rocha (6,3%), e Guararema (5,5%).”
Valer ressaltar que este aumento de 2,3% no PIB se daria num longo prazo, de acordo com o ritmo de investimentos em transportes públicos, descentralização das ofertas de emprego e renda e, consequente, diminuição nos tempos de deslocamentos.

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