domingo, 21 de junho de 2015

Empresa de ônibus do Rio tem 90% dos ônibus sem condições de circular

Fiscalização do Procon-RJ na empresa de ônibus Expresso Pégaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades

Quando embarca no ônibus da linha 398, da Expresso Pégaso, em Campo Grande, para ir ao trabalho, em Bonsucesso, o mecânico Gedeon Pessanha Mesquita, de 49 anos, nunca tem certeza de que o coletivo o deixará no seu destino. Nos últimos 20 dias, a má conservação dos veículos o deixou no caminho duas vezes. O ônibus quebrou, e ele precisou esperar outro para seguir viagem.
A preocupação do passageiro ganha força nos números. Desde 2013, a empresa, responsável por 30 linhas da Zona Oeste, teve 203 ônibus lacrados pela Operação Roleta Russa, do Procon, que analisa as condições dos carros. As últimas duas ações levaram à interdição de 90% da frota. Na quinta-feira, os fiscais lacraram um ônibus com mais de 150 multas de trânsito, algumas em aberto desde 2010, conforme dados da Secretaria municipal de Transportes. O veículo circulava com documento vencido em 2012.
Fiscalização do Procon na empresa de ônibus Expresso Pégaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades
Fiscalização do Procon na empresa de ônibus Expresso Pégaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades Foto: Márcio Alves / Extra
Os problemas são recorrentes, como mostram os dez processos que tramitam no Tribunal de Justiça desde 2012. Todos têm a Pégaso como ré e resultam de ação civil pública do Ministério Público. Motivo: mau serviço prestado. Em maio, o Procon lacrou 57 dos 59 ônibus da Pégaso vistoriados.
A prefeitura já multou o Consórcio Santa Cruz, ao qual a Pégaso pertence, inúmeras vezes (confira no gráfico ao lado). Uma delas, por descumprir o contrato com o município, soma R$ 10 milhões. Questionada por que não cassa a concessão da empresa, a prefeitura não respondeu.
— Já peguei ônibus sem vidro na janela e com bancos soltos — relatou Caroline Cunha, de 25 anos, usuária do 366.
Na quinta-feira, o Procon interditou 45 dos 50 ônibus vistoriados na garagem da Pégaso. Alguns já haviam sido pegos em operações anteriores. Segundo o diretor de fiscalização do órgão, Fábio Domingos, se toda a frota — de 400 ônibus — fosse vistoriada, “possivelmente a empresa é que seria interditada”:
— Evitamos fazer isso para não levar a um colapso do serviço que prejudique o usuário.
Fiscalização do Procon na empresa de ônibus Expresso Pegaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades
Fiscalização do Procon na empresa de ônibus Expresso Pegaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades Foto: Márcio Alves / Agência O Globo
Especialista vê omissão do poder público
O advogado Armando de Souza, presidente da Comissão de Legislação de Trânsito da OAB-RJ, diz que só vê um motivo para a concessão da Pégaso ainda não ter sido cassada: omissão do poder público.
— Os problemas são públicos e notórios. As autoridades são omissas na obrigação de fiscalizar e podem ser responsabilizadas em caso de acidentes — afirma.
Na avaliação do especialista, ao prestar um mau serviço, a empresa está violando o direito do passageiro a viajar com conforto e em segurança. Também está ferindo o direito constitucional da dignidade da pessoa humana. Ele diz, inclusive, que o próprio usuário pode recorrer à Justiça, se se sentir prejudicado.
Para o advogado Bruno Navega, especialista em direito administrativo, num caso como o da Pégaso, o que a prefeitura poderia fazer seria determinar ao consórcio a substituição da empresa. Mas antes, alerta, deveria abrir um processo administrativo para apurar possíveis irregularidades, dando direito à ampla defesa.
Fiscalização do Procon-RJ na empresa de ônibus Expresso Pegaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades
Fiscalização do Procon-RJ na empresa de ônibus Expresso Pegaso, em Campo Grande, encontra várias irregularidades Foto: Márcio Alves / Agência O Globo
Empresa culpa vândalos
A Pégaso alega que, dos veículos lacrados na quinta-feira pelo Procon, 26 apresentavam problemas causados por depredações, como cordas de cigarras subtraídas. Os problemas elétricos, como lâmpadas queimadas, segundo a empresa, seriam sanados na manutenção, “realizada durante todas as madrugadas”. Só após os reparos, os veículos voltariam a circular. Sobre os 57 ônibus interditados na ação anterior, informou que 50 já haviam sido liberados pelo Procon e voltado a operar.
A empresa alegou ainda que o Consórcio Santa Cruz passa por reestruturação e, com a saída das empresas Andorinha e Rio Rotas, as linhas estão sendo redistribuídas. A Pégaso informou que investe na renovação da frota e deve colocar em circulação nos próximos dias 110 ônibus novos.
O veículo campeão de multas atende a uma linha alimentadoras do BRT. As 153 infrações cometidas são: excesso de velocidade (120), fugir da faixa (7), avanço de sinal (6), não identificar o condutor (6), estacionamento irregular (5), desobedecer a ordem de autoridade do trânsito (2), desobedecer a cuidados com segurança, furar bloqueio, parar na pista de rolamento rápido, transitar em horário e local proibidos, deixar de dar passagem à polícia, dirigir falando ao celular e boquear a via com veículo (1 cada). A Pégaso informou que o veículo “só voltará a circular após ter a situação regularizada”.
‘Carro com problema, eles maquiam e mandam pra rua’
Um motorista da linha 366 (Campo Grande-Tiradentes) fala sobre as condições precárias dos veículos:
“Os ônibus enguiçam todos os dias. É a maior vergonha que passamos. O pior é que os passageiros vêm em cima da gente. Somos esculachados nas ruas diariamente. Isso é injusto. A firma é que deveria passar por esse vexame e não nós, os motoristas. Carro com problema eles maquiam e mandam pra rua de novo. Nós sempre avisamos na garagem o estado em que eles se encontram, mas ninguém toma providência. Não adiante nada. No fim da semana passada, estava de folga e o carro que dirijo pegou fogo na rua, com outro colega, por causa de uma pane na parte elétrica”.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/empresa-de-onibus-do-rio-tem-90-dos-onibus-sem-condicoes-de-circular-16509104.html#ixzz3dhfIsh5L

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