domingo, 24 de maio de 2015

Ambulantes vendem produtos em ônibus BRT

Vendedores ambulantes dentro do ônibus BRT no corredor Transoeste

“Bom dia senhores, passageiros! Tenho aqui jujuba e paçoca para adoçar sua viagem. Só paga R$ 1”. Aproveitando a brecha da falta de fiscalização e a “vista grossa” do motorista, o ambulante entra no ônibus expresso do BRT Transoeste, na estação Gastão Rangel, em Santa Cruz. E, após faturar alguns trocados com a venda de guloseimas, desce na estação seguinte: a Cajueiros, no mesmo bairro. Nela, cerca de dez jovens, valendo-se da porta que não fecha direito, sobem pela mureta da plataforma, para viajar de graça, sem passar pela roleta.
— Isso já virou rotina. À noite, é muito pior — afirmou, sobre o calote, uma passageira que não quis se identificar.
Essas situações, somadas a outras constantes no sistema como a superlotação, ar-condicionado que não dá conta e a insegurança, renderam ao serviço o apelido de BRTrem, dado pelos passageiros.
— Só que, enquanto o trem está melhorando, o BRT está piorando. Já tem até camelô — aponta o estagiário Cassiano Henrique da Silva Alves Chagas, de 20 anos.
Na manhã de quinta-feira, a equipe do EXTRA fez seis viagens no Transoeste, percorrendo dez estações entre Santa Cruz e Mato Alto. Pelo caminho flagrou dezenas de passageiros acessando as estações pela plataforma de embarque, sem pagar, além da ação dos ambulantes.
Passageiros se arriscam para entrar na plataforma sem pagar
Passageiros se arriscam para entrar na plataforma sem pagar Foto: Guilherme Pinto / Extra
Em algumas estações entravam mais de um, mas nunca oferecendo o mesmo tipo de produto, numa espécie de ética respeitada por eles. Na estação Santa Cruz, os vendedores não se intimidaram nem com a presença dos dois policiais militares que faziam a segurança no local. Nas demais, não havia policiamento.
— Rapidez é a única vantagem do BRT. Não vejo conforto nenhum. Nem fora do rush consigo viajar sentado e o ar-condicionado só funciona bem com o ônibus vazio. Esperava mais do serviço, pelo que prometeram. Do jeito que está, diria que o BRT virou BRTrem, pois tem todos os problemas do trem. Até camelô já tem dentro dos ônibus. Não falta mais nada para ficar igual — comentou Carlos Rafael Amaro, de 30 anos, técnico de informática que mora em Santa Cruz.
Situação semelhante também é verificada no corredor Transcarioca, que liga a Barra da Tijuca ao Galeão, na Ilha do Governador. Os vendedores oferecem de tudo um pouco: bala, biscoito, água, chocolate e picolé. Entre os passageiros, a ação dos ambulantes divide opiniões.
Ambulantes vistos pelo EXTRA não concorrem entre si: cada um vende um tipo de produto diferente para os usuários
Ambulantes vistos pelo EXTRA não concorrem entre si: cada um vende um tipo de produto diferente para os usuários Foto: Guilherme Pinto / Extra
— Deviam ser combatidos porque acabam contribuindo para deixar ônibus e estações mais sujas — diz um passageiro, que não quis se identificar.
— São trabalhadores. Estão correndo atrás — rebate o pedreiro José Ricardo Lemos, de 45 anos.
Código proíbe vendas
Tanto a Secretaria municipal de Transportes quanto o Consórcio BRT recorreram ao código disciplinar, de 2010, para informar que o motorista não deve permitir “a venda de objetos ou alimentos no interior do veículo”. O artigo 37 prevê aplicação de multa de R$ 54,23 (20 Ufir) ao profissional. Isso não impede a repressão, que segundo o consórcio, é feita por PMs do Proeis e guardas municipais. Ainda segundo o consórcio, há registro em vídeo da ação de ambulantes, “mostrando inclusive danos a equipamentos”.
Sobre o problema do calote, o consórcio diz que é grave e merece atenção, “inclusive por ser, por vezes, praticado por beneficiários de gratuidade, além de ser crime previsto no Código Penal (Artigo 176), passível de multa e detenção”. O BRT diz que atua de forma complementar, com equipes do Proeis e monitoramento por câmera. Com relação à qualidade do serviço, informou que pesquisa ainda não divulgada mostra aprovação de 74% nos dois corredores de BRT.
A Guarda informou que, além do ordenamento do trânsito no entorno, também atua impedindo acesso de ambulantes às estações. As mercadorias apreendidas são levadas para os depósitos da prefeitura, acrescentou.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/ambulantes-vendem-produtos-em-onibus-brt-16242302.html#ixzz3b6HWMo00

Nenhum comentário:

Postar um comentário