sábado, 14 de fevereiro de 2015

Após impasse político, RIT terá passe de papel para as linhas metropolitanas

Medida será temporária até a adoção de um sistema metropolitano de bilhetagem eletrônica, segundo a Comec. Passageiros que fazem a integração terão de portar dois modelos de vale-transporte.
Ônibus da região metropolitana. Impasse entre estado do Paraná e prefeitura de Curitiba faz com que gestão de tarifa seja separada. Passageiros de 13 cidades vizinhas à capital e que formam a RIT terão de possuir dois vales diferentes. As transferências gratuitas entre ônibus metropolitanos e municipais urbanos continuam. Foto: Fernando Trilha Júnior.
Ônibus da região metropolitana. Impasse entre estado do Paraná e prefeitura de Curitiba faz com que gestão de tarifa seja separada. Passageiros de 13 cidades vizinhas à capital e que formam a RIT terão de possuir dois vales diferentes. As transferências gratuitas entre ônibus metropolitanos e municipais urbanos continuam. Foto: Fernando Trilha Júnior.

Os desentendimentos políticos entre o governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba em relação aos subsídios para a integração entre as linhas metropolitanas de 13 cidades e as municipais da capital paranaense fizeram com que a gestão das tarifas de ônibus, que antes era de responsabilidade da empresa municipal Urbs (Urbanização de Curitiba S.A.), fosse separada.
Por causa disso, o pagamento das passagens nos ônibus metropolitanos integrados será diferente em relação aos ônibus municipais de Curitiba. Essa era uma das principais características da RIT – Rede Integrada de Transporte.
O Cartão-Transporte da Urbs, que antes era aceito em todos os ônibus da RIT, a partir deste sábado, dia 14 de fevereiro de 2015, não vai mais valer nos ônibus metropolitanos integrados.
Ele continua sendo aceito apenas nos ônibus urbanos municipais.
Os passageiros da região metropolitana devem pagar a tarifa de R$ 3,30 com dinheiro ou com um passe de papel, que é comercializado na sede da Metrocard – Rua Benjamin Constant, 148, no centro de Curitiba. O vale de papel também pode ser comprado em um dos terminais metropolitanos.
A Metrocard é a empresa que gerencia a venda dos cartões metropolitanos das linhas não integradas, pertencente às companhias de ônibus.
Mas agora, passa a ser responsável pela comercialização de toda a bilhetagem eletrônica das linhas metropolitanas, sejam integradas ou não.
Segundo a Comec – Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba, órgão do governo do estado do Paraná, a integração entre as linhas continua, mas o passageiro terá de portar dos bilhetes, dependendo em qual ônibus for realizado o embarque.
Por exemplo, na ida, a partir de um dos 13 municípios que formam a RIT com destino a Curitiba, o passageiro tem de pagar com o Vale-Transporte Metropolitano, no caso de linha integrada. Em um dos terminais do sistema, ele pode continuar a viagem num ônibus municipal sem pagar nova tarifa.
Na volta, de Curitiba para uma destas cidades, o mesmo passageiro que pegar um ônibus municipal deve pagar com o Cartão-Transporte da Urbs e no terminal embarcar gratuitamente em qualquer linha metropolitana integrada.
As cidades que formam a RIT são: Almirante Tamandaré, Pinhais, São José dos Pinhais, Araucária, Contenda, Colombo, Campo Magro, Campo Largo, Bocaiúva do Sul, Rio Branco do Sul, Itaperuçu, Piraquara e Fazenda Rio Grande.
Ainda de acordo com a Comec, o vale de papel é uma solução temporária até a implantação de um sistema de bilhetagem eletrônica com cartão somente para as linhas metropolitanas. Esta bilhetagem será operada pelas empresas de ônibus e pela Metrocard. O gerenciamento dos recursos é de responsabilidade da Comec.
Em nota, o presidente da Coordenação da Região metropolitana de Curitiba (Comec), Omar Akel, responsabiliza a prefeitura da capital pela “desintegração” na gestão das tarifas.
“A mudança exigirá um período de adaptação, mas temos que adotar esse novo modelo por conta da decisão de Curitiba, de acabar com a integração financeira … Estamos adotando essas medidas com um objetivo maior, que é o de manter a integração e o valor da passagem”, disse Akel na nota.
A prefeitura de Curitiba, até a conclusão desta reportagem, não havia se manifestado sobre o a bilhetagem, mas alfinetou a Comec em relação à redução do trajeto de algumas linhas de ônibus metropolitanas.
“Para garantir que passageiros da Região Metropolitana continuem a contar com integração do transporte – o que significa chegar ao destino final sem pagar nova passagem –, a Urbs vai promover no próximo sábado (14) alterações na operação de ligeirinhos que atendem usuários de Araucária, Campo Largo, Colombo e São José. As mudanças são necessárias em função da decisão da Comec de reduzir a extensão das linhas metropolitanas integradas desses quatro municípios e estão sendo informadas aos usuários por meio de cartazes e mensagens nos painéis eletrônicos nos terminais, estações e ônibus de Curitiba. As quatro linhas metropolitanas que passarão a fazer trajetos mais curtos a partir de sábado (14) atendem, por dia, 82 mil passageiros. O mais carregado deles é o Colombo/CIC que transporta por dia 35,8 mil passageiros e tem um trajeto, ida e volta, de 43,2 quilômetros. A segunda linha mais carregada é a Curitiba/Araucária, que atende 19,9 mil passageiros por dia, com um trajeto total de 54,9 quilômetros. O Barreirinha/São José transporta por dia 17,5 mil passageiros e faz um trajeto total de 43,1 quilômetros. O Campo Largo/Curitiba atende 8,1 mil passageiros com um trajeto de 54,7 quilômetros. A decisão da Comec representa, na prática, um corte na oferta do transporte metropolitano integrado, com a redução do trajeto. A linha São José/Boqueirão terá uma extensão de 7,2 quilômetros, enquanto a linha Barreirinha/São José tem 43,2 quilômetros. O trajeto da Araucária/Capão Raso será reduzido de 54,9 para 39,5 quilômetros. A Colombo/Cabral fará um trajeto de 18 quilômetros, enquanto a Colombo/CIC faz 53,2 quilômetros. A linha Campo Largo/Curitiba será reduzida de 54,7 para 49,8 quilômetros.” – diz a Urbs em nota.
POLITICAGEM: Esta é a causa para a continuação do uso de um bilhete apenas na RIT, como ocorria até agora.
As empresas de ônibus não são responsáveis por estas mudanças e os passageiros perdem a praticidade de ter apenas um cartão para todas as linhas integradas.
A solução de dois vales, segundo a Comec, é para garantir as integrações gratuitas.
Enquanto o governador do Paraná, Beto Richa, e o prefeito, Luciano Ducci, ambos do mesmo partido, PSDB, estavam concomitantemente no poder, não havia discussões apesar de já existirem distorções quanto ao financiamento do sistema, principalmente das integrações entre metropolitanas e municipais.
Foi só Gustavo Fruet, do PDT, opositor político de Beto Richa, ganhar as eleições, que as rusgas entre estado e município começaram. Não somente na área de transportes, mas o setor de mobilidade foi um dos principais panos de fundo.
Pesquisa de origem e destino encomendada pelo governo do Paraná, com concordância da prefeitura, realizada pela Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, Universidade de São Paulo, revelou que a demanda dos passageiros das linhas metropolitanas era de 31% e os custos de operação, de 27,82%. Portanto, somente estas linhas, sem as integrações com as urbanas municipais, não eram deficitárias como alegava a Urbs, da prefeitura.
Na prática, como todo o dinheiro era centralizado no órgão municipal, mesmo os recursos sendo estaduais, não eram usados apenas para as metropolitanas e acabavam sendo destinado às urbanas municipais.
Enquanto governo e prefeitura eram do mesmo partido, a distorção passava.
Agora com a rivalidade política, o governo quis corrigir o erro.
A prefeitura não aceitou e anunciou a separação do sistema municipal da RIT do ponto de vista financeiro.
Duas propostas da Comec de redução de subsídios foram rejeitadas pela Urbs.

COMO VAI FUNCIONAR O SISTEMA DE DOIS TIPOS DE VALE-TRANSPORTE NA RIT?

A Comec distribuiu um folheto com perguntas e respostas para tentar responder as principais dúvidas dos passageiros sobre a necessidade de portar dois vales diferentes. O conteúdo é o seguinte:
“Em virtude do processo de separação da TARIFA Metropolitana e Urbana de Curitiba, o Vale Transporte será diferente para os dois sistemas a partir do dia 14/02/2015 (sábado) –
– A integração metropolitana irá acabar? Não.
– Haverá mudanças nas Linhas Metropolitanas Integradas? Sim. Algumas linhas terão trajetos modificados, o que será informado pela COMEC e pelas empresas que operam as linhas.
Qual tipo de Vale Transporte será aceito nas linhas metropolitanas integradas? Temporariamente será necessária a utilização de um Vale Transporte de Papel até a implantação de uma bilhetagem eletrônica mais moderna.
– Utilizo o transporte metropolitano integrado. Como devo proceder no pagamento da passagem? Nos ônibus, tubos e terminais INTEGRADOS identificados com “M“ serão aceitos somente o Vale Transporte de Papel e dinheiro. Em São José dos Pinhais poderá ser aceito cartão transporte VEM
– Como e onde eu consigo o Vale Transporte de Papel? O Vale Transporte de Papel poderá ser adquirido na Metrocard (Rua Benjamin Constant, 148 – Centro-Curitiba) ou então nos terminais metropolitanos.
– O Cartão Transporte da URBS (Linhas Urbanas) será aceito nos ônibus, tubos e terminais metropolitanos integrados? Não. Assim como o Vale Transporte de Papel não será aceito nos ônibus, tubos e terminais urbanas integradas.
O Vale Transporte de Papel terá validade? Sim. Em função de ser uma solução temporária, apenas para mudança do sistema de bilhetagem eletrônica atual, o prazo de validade estará impresso em cada Vale Transporte de Papel.
Haverá mudanças nas Linhas Metropolitanas Não Integradas? Não.”
Na página do Facebook, a Metrocard diz como as empresas empregadoras que compraram créditos que para os funcionários que moram na região metropolitana devem proceder com a mudança:
As empresas que fornecem Vale Transporte para seus funcionários podem efetuar a comprar junto a Metrocard e pedir que seus funcionários façam a retirada fracionada na Metrocard? Não. Os lotes de Vale Transporte Temporário de Papel devem ser adquiridos na Metrocard e devem ser retirados de uma vez só vez.
E meus créditos do Cartão Transporte (URBS) o que faço com eles? Os créditos do Cartão Transporte (URBS) podem ser utilizados nos ônibus, tubos e terminais URBANOS de Curitiba.
Posso trocar meus créditos do Cartão Transporte (URBS) por Vale Transporte Temporário de Papel? Não.
Posso recuperar meu saldo de créditos do Cartão Transporte (URBS) por dinheiro? Procure informações junto a URBS ou ligue 156;
Por que está havendo esta mudança? Em função da mudança de gestão da Rede Integrada de Transporte Metropolitana.
A partir de agora a Bilhetagem das Linhas Metropolitanas INTEGRADA será sempre desta forma? Não. Trata-se de uma solução temporária para transição dos sistemas de bilhetagem.
Após o período de transição poderei trocar o Vale Transporte Temporário de Papel por dinheiro? Não. Haverá um prazo para que todos os Vales Temporários de Papel sejam utilizados.”

READEQUAÇÃO DAS LINHAS

Em nota, a Urbs informa como serão as alterações das linhas e como o passageiro deve proceder.
“Ligeirinho Colombo/CIC – por decisão da Comec, a partir de sábado vai terminar no Terminal Cabral. Para que o usuário que embarcou em Colombo consiga chegar ao mesmo destino na CIC, passando pelo mesmo trajeto, a Urbs vai colocar em operação a linha CIC/Cabral, a partir do Terminal Cabral.
Ligeirinho Barreirinha/São José – da mesma forma, para atender os passageiros que se deslocam no trajeto entre a Barreirinha e o município de São José dos Pinhais, a Urbs vai implantar o Ligeirinho Barreirinha/Guadalupe, que faz parada nas estações tubo Prefeitura, Comendador Fontana e Círculo Militar, onde é possível pegar o ônibus Boqueirão Centro Cívico e, no terminal Boqueirão, fazer a integração para São José.
Esta alteração também foi necessária para garantir o deslocamento, com integração, dos usuários da linha metropolitana Barreirinha/São José que, segundo anunciado pela Comec, também fará um trajeto bem menor a partir do próximo sábado, fazendo a ligação apenas de São José ao Terminal Boqueirão.
Ligeirinho Araucária/Curitiba – esta linha também será encurtada pela Comec. Deixará de vir até o centro de Curitiba para terminar no Terminal Capão Raso. Com isso será desativada a estação Rui Barbosa, na Desembargador Westphalen, quase esquina com Visconde de Guarapuava. Em função da mudança feita pela Comec, o ligeirinho Curitiba/Araucária não vai mais parar na estação tubo Vila Guaira.
Ligeirinho Campo Largo/Curitiba – também o teve a extensão da linha reduzida pela Comec, passando a ter ponto final no Terminal Campina do Siqueira e não mais na estação Hospital Militar, na rua Vicente Machado. Como este era o único ônibus que parava nessa estação, ela será desativada.”
Outras alterações de trajetos de linhas devem ser realizadas nas próximas semanas.

INTEGRAÇÃO FOI UMA DAS MARCAS NO SISTEMA

Apesar de a integração continuar, com o passageiro pagando uma tarifa mesmo usando mais de um ônibus, seja metropolitano integrado ou municipal urbano de Curitiba, a existência de um cartão para todo sistema era uma das marcas da RIT – Rede Integrada de Transporte.
Desde os anos de 1980, o sistema era integrado fisicamente, com a Urbs gerenciando o sistema de transportes de Curitiba já em 1986. As integrações tarifárias foram implantadas aos poucos:
  • 05/04/1996 – Almirante Tamandaré;
  • 11/05/1996 – Pinhais;
  • 17/07/1996 – São José dos Pinhais;
  • 20/07/1996: Araucária;
  • 20/07/1996 – Contenda;
  • 21/09/1996 -Colombo;
  • 06/03/1997 – Campo Magro;
  • 12/04/1997 -Campo Largo;
  • 01/07/1997 – Bocaiúva do Sul;
  • 19/04/1998 – Rio Branco do Sul;
  • 19/04/1998 – Itaperuçu;
  • 01/07/1999 – Piraquara;
  • 02/09/2000: -Fazenda Rio Grande.
Era um cartão só para todas estas cidades e essa foi uma das principais características por décadas do sistema de Curitiba e região metropolitana: andar por 14 municípios com o mesmo valor, de forma integrada. Isso ganhou até mais destaque que os corredores de ônibus e as estações-tubo.

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