domingo, 30 de novembro de 2014

OPINIÃO – Números de viagens em São Paulo: comemorar sim, mas sem ilusões

Outubro representou recorde no número de deslocamentos no transportes municipais, mas média mensal subiu menos de meio por cento.
Ônibus urbano em São Paulo. Outubro foi o mês que registrou o segundo maior número de viagens em toda a história da medição da SPTrans. No entanto, média mensal está quase inalterada mesmo com faixas e mais modalidades do Bilhete Único o que mostra que ainda muito precisa ser feito pela mobilidade urbana. Foto: Adamo Bazani
Ônibus urbano em São Paulo. Outubro foi o mês que registrou o segundo maior número de viagens em toda a história da medição da SPTrans. No entanto, média mensal está quase inalterada mesmo com faixas e mais modalidades do Bilhete Único o que mostra que ainda muito precisa ser feito pela mobilidade urbana. Foto: Adamo Bazani
Apesar de o mês de outubro ter registrado recorde no número de viagens na administração do prefeito Fernando Haddad, totalizando 267,7 milhões, a média mensal de descolamentos por ônibus municipais entre janeiro e outubro deste ano ficou praticamente estável, com ligeira alta de menos de meio por cento, em relação aos anos de 2013 e 2012.
No período de janeiro a outubro deste ano, o número de viagens foi de 244 milhões, apenas um milhão a mais na comparação com os dois anos inteiros anteriores.
O mês que registrou o maior número de viagens de toda a história da medição realizada pela gerenciadora de transportes, SPTrans, foi agosto de 2012, quando foram contabilizadas 268 milhões.
Numa primeira avaliação, o texto pode demonstrar uma visão pessimista sobre os números ou então aparentar que o intuito é destacar dados não muito otimistas frente ao alardeado recorde da administração Haddad em outubro e o segundo maior da história.
Mas não é nada disso. A reflexão é no sentido de que não se pode desprezar o fato da tendência de alta no número de deslocamentos por ônibus, no entanto, ainda os resultados não são tão expressivos para se comemorar e prosseguir apenas com as atuais ações em prol da mobilidade urbana.
Se tais resultados fossem suficientes, São Paulo não seria ainda refém de um dos piores congestionamentos em todo o mundo.
Estes balanços da SPTrans mostram que com as faixas de ônibus, que até dia 13 de setembro eram exclusivas (hoje são compartilhadas com os táxis), novas modalidades de Bilhete Único e incentivo às bicicletas, que também influencia no número de pessoas que prosseguem seu deslocamento por ônibus, a prefeitura segue um bom caminho na política de mobilidade urbana e isso deve ser exaltado.
Mas o baixo crescimento da média mensal no número de passageiros revela que muito ainda tem de ser feito na cidade de São Paulo, e seguido por outros municípios, para que realmente o transporte público assuma um papel ainda mais importante nas viagens urbanas.
Uma das grandes expectativas do paulistano, que depois da remodelação das licitações das obras parecem estar mais perto da realidade, são os corredores exclusivos para ônibus.
A meta da prefeitura é de 150 quilômetros até o final da gestão Haddad.
Estes espaços sim são mais adequados para ônibus que podem transportar maior demanda, sendo de modelos mais confortáveis, com motor traseiro, articulados, superarticulados e biartuclados, capazes de convencer as pessoas a deixar o carro em casa. Os corredores também oferecem mais velocidade ao transporte coletivo e as pessoas querem isso: mais tempo para estudar, trabalhar, descansar, enfim viver. Ninguém quer ficar preso no ônibus ou no congestionamento.
Só os corredores de ônibus não bastam.
São necessárias políticas de mobilidade. E isso vai além de espaços exclusivos.
Empresas transportadoras, população e o poder público devem objetivar uma boa gestão do sistema de transportes. Muitas vezes, grandes nós num trajeto que atrasam uma viagem inteira, podem ser resolvidos com ações simples. E isso depende muito do foco e da qualidade dos técnicos que atuam na área. A prefeitura deveria fazer parcerias para formar bons técnicos em transportes.
Após (e somente após) o transporte coletivo ser priorizado, modernizado e tendo uma gestão mais eficiente em todos os aspectos, a política de mobilidade deve passar por ações restritivas ao uso do automóvel.
É questão de democracia do espaço urbano. Se há um sistema de metrô, trem e ônibus realmente eficiente, inclusive nos fins de semana, não é justo um carro que ocupa desproporcionalmente as vias na cidade ainda ter os mesmos privilégios que dezenas (porque não centenas) de passageiros que dividem espaço dentro de um veículo de transporte coletivo.
Por mais impopular que sejam as medidas, mas num médio prazo ações como ampliação de horários e áreas de rodízio, pedágio urbano e redução de vagas de estacionamentos nas ruas devem sim já fazer parte dos planos da prefeitura.
A própria SPTrans foi realista e estima que 2014 deve ter números de viagens semelhantes ao total de 2013 que fechou com 2,441 bilhões de viagens.

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