domingo, 8 de junho de 2014

Niteroienses pedem linha de ônibus direta para Barra da Tijuca, mas Detro defende integração





Ônibus do BRT Transcarioca na Ilha do Governador: linha que sai de Charitas faz ponto final no Galeão, de onde a equipe embarcou em direção à Barra da Tijuca - Guilherme Leporace / Agência O Globo

NITERÓI – A segunda linha de BRT no Rio não aliviou a maratona diária de quem mora em Niterói e depende do transporte público para ir à Barra da Tijuca. A viagem dura, em média, três horas e exige, no mínimo, duas conduções. No BRT Transcarioca, chega a quase quatro horas. Duas equipes de reportagem do GLOBO-Niterói testaram, na manhã da última quarta-feira, dia da inauguração do Transcarioca, alternativas de integração de Niterói à Barra: uma pelo novo corredor expresso e a outra pela Linha Amarela. Nesta, a viagem demorou uma hora e 58 minutos. Já pelo BRT, foram três horas e 55 minutos no trânsito, quase o tempo de uma viagem de ida e volta a Cabo Frio.

Cansados com o desgaste no trânsito e a falta de um ônibus direto até o bairro da Zona Oeste carioca – um dos que mais crescem hoje em termos de serviços e negócios –, niteroienses resolveram protestar. A corretora de imóveis Giselly Cardoso, que costuma fazer o trajeto pela Linha Amarela, criou, há uma semana, um evento no Facebook pleiteando ao Detro uma linha que faça o percurso direto. Até ontem, quase sete mil pessoas já tinham curtido a iniciativa e dezenas de comentários reforçavam o interesse. A ideia é enviar um abaixo-assinado ao órgão de trânsito.

– Criar uma linha para a Barra tiraria muitos carros das ruas e, consequentemente, desafogaria um pouco esse trânsito caótico. A dificuldade de chegar até a Zona Oeste é enorme. São mais de duas horas e meia, e os ônibus que fazem a integração no Rio estão sempre lotados. Não é possível que eles não julguem esse projeto necessário – argumenta Giselly, que mora em Niterói e diariamente sofre no trânsito rumo à Barra, onde trabalha.

O Detro diz que a reivindicação está na contramão do Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU), que propõe a integração modal e intermodal, e não a criação de novas linhas.

– Niterói não está desprovida de transporte intermunicipal. Acontece que a população não tem o hábito de usar a integração – avalia o diretor técnico do Detro, João Cassimiro Araújo.

O ponto de partida do teste feito pelo GLOBO-Niterói foi Charitas, onde há ponto final de diferentes linhas que saem de Niterói para o Rio. O destino era o Terminal Alvorada. Às 8h, um repórter embarcou no ônibus da linha 709D (Charitas–Castelo), saltou na descida da Ponte Rio–Niterói, na altura do Into, e subiu no 315 (Central–Recreio), que pegou a Linha Amarela em direção ao Alvorada, num percurso de 50,3km.

O trânsito bom ajudou bastante no deslocamento que, em dias de tráfego intenso, pode chegar a duas horas e meia, segundo Giselly. O ponto negativo foi a falta de passarela em frente ao Into para fazer a travessia do trecho inicial da Avenida Brasil: as pessoas precisam cruzar três pistas expressas, sendo duas sem sinal de trânsito, para chegar até o ponto de ônibus.

As quase quatro horas que durou o outro trajeto, de 60,2km, também com saída às 8h, foram divididas da seguinte forma: duas horas e meia de Charitas ao Galeão e uma hora e 25 minutos de lá até o Alvorada, pelo BRT Transcarioca.

O corretor de imóveis Jhonny Pires, que precisou pegar um documento em Niterói e levá-lo até a Barra, também decidiu testar o BRT:

– De tanto ver reportagens sobre a inauguração do BRT, decidi fazer este caminho. O corredor expresso até que é rápido, mas o problema é o caminho de Niterói até o Galeão. Demora demais.

O economista Thomas Lucena engrossa o coro dos que pleiteiam uma linha direta de Niterói à Barra. Ele trabalha há dez anos numa multinacional na Zona Oeste e há três se mudou para Niterói. Thomas, que faz o caminho de carro diariamente, reclama da falta de transporte público de qualidade.

– Moro em São Francisco e meu caminho é pelas avenidas Presidente Roosevelt, Roberto Silveira e Jansen de Melo. Subo a Ponte, desço na Avenida Brasil, pego a Linha Amarela e chego à Ayrton Senna. Quando o trânsito está livre, levo, em média, uma hora para chegar à Barra, mas já cheguei a fazer o mesmo percurso em três horas – explica o economista. – Uma vez, peguei o catamarã de Charitas para o Rio. Lá, embarquei num frescão. Foi uma longa viagem. Se o transporte público Niterói–Barra fosse eficiente e eu chegasse ao trabalho em até uma hora e meia, eu deixaria o carro em casa para ir de ônibus.

Paulo Cesar Ribeiro, professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, diz que há uma demanda de mais de seis mil pessoas interessadas na linha Niterói–Barra:

– Acredito que é fundamental uma análise sobre o caso para ver que o trajeto seria mais adequado.

Para Eva Vider, engenheira de transportes e professora da UFRJ, a solução seria colocar ônibus executivos fazendo a linha Niterói–Barra. Ela estima, que, a cada viagem, haveria 40 carros a menos nas ruas, já que o transporte seria usado por um público mais seleto.

– Mas não vejo necessidade de se criar uma linha com ônibus comum – diz a especialista, ressaltando que o BRT Transcarioca não é alternativa para quem sai de Niterói em direção à Barra. – O caminho mais rápido desse trajeto já existe com integração, e é pela Linha Amarela.

De acordo com o diretor técnico do Detro, as 28 linhas intermunicipais de Niterói, São Gonçalo e Maricá atendem perfeitamente à demanda dos moradores. Ele afirma, porém, que vias do Rio, como a Linha Amarela, não foram projetadas para a atual quantidade de veículos que recebem hoje. Para ele, é pouco provável que a solicitação dos niteroienses seja atendida, visto que a proposta do PDTU não é colocar mais ônibus da rua e estrangular ainda mais essas vias. E o Bilhete Único municipal ou estadual, diz ele, seria uma forma de incentivo econômico a quem depende de dois meios de transportes. Ainda assim, Araújo diz que para o Detro analisar o pedido dos moradores de Niterói é preciso que eles protocolem o abaixo-assinado para depois, se for o caso, seguir outros trâmites, que levariam até cinco meses.



Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/...#ixzz341CBGcjq

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