Em visita ao Rio, cientista-chefe da Shell dá opinião a respeito dos modais em implantação na cidade, suas vantagens e desvantagens
Wolfgang Warnecke, especialista da Shell em mobilidade - Eric Shambroom / Divulgação
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Um dos oito cientistas-chefes da Shell no mundo, o engenheiro alemão Wolfgang Warnecke é um especialista em tudo que se move sobre rodas. No Rio para um evento na UFRJ, ele falou ao GLOBO-Barra sobre como a inovação pode ajudar na mobilidade urbana e como uma solução única não resolverá o trânsito nas grandes cidades.
O Rio de Janeiro nunca viveu tantos problemas de trânsito. A inovação pode ajudar?
Inovação pode ajudar em tudo. Mas para transporte não existe uma solução única, e sim um mosaico de soluções. Pode-se melhorar o transporte público com uso de bicicletas, por exemplo, ou carros menores e mais limpos.
E a curto prazo, para as Olimpíadas, por exemplo?
Uma coisa muito importante é o transporte de mercadorias. Nos Jogos, o Rio vai enfrentar um desafio na área de transportes. E isso inclui logística: como levar a água, a comida e o lixo que o evento movimentará de um ponto a outro da cidade.
O problema, então, é o transporte de mercadorias, mais do que o de pessoas?
Não é um problema específico de grandes eventos, mas da sociedade como um todo. O comportamento está mudando. Nossa demanda por mobilidade está diferente. Dependendo de onde vive, o jovem não está mais disposto a ter um carro. Por outro lado, compramos cada vez mais on-line; a mercadoria vem até nós. Logo, o transporte de mercadorias se torna mais importante.
Como isso se aplica ao Brasil?
Sei que há muitos caminhões nas rodovias entre Rio e São Paulo. Grandes, pesados, usados para trajetos longos. Precisamos entender como distribuir a mercadoria nas cidades usando caminhões menores e ver qual o melhor combustível, para reduzir suas emissões. Na Europa, é cada vez mais comum que grandes caminhões, quando chegam aos centros urbanos, mudem suas mercadorias para outros de menor porte. É uma tendência. E, no futuro, estes veículos poderão ser mais limpos. Isso beneficia a infraestrutura das cidades.
No Rio há um projeto para adotar o car sharing de veículos elétricos.
Car sharing é uma pequena solução que pode ser usada no mosaico de soluções. Há quem acredite que ele sozinho solucionaria os problemas. Mas há entraves. Um exemplo: quem paga pelo veículo se ele for danificado? É interessante também isso de o modelo ser sempre combinado com veículos elétricos. Um dos maiores problemas nos países que já o adotaram é que as pessoas não abastecem os carros, mesmo que incentivadas. A mesma situação vai ser enfrentada no caso do carro elétrico, com o adicional de que você vai precisar de uma infraestrutura de postos de abastecimento elétrico robusta, o que não é fácil ter.
E quanto ao compartilhamento de bicicletas?
É um modelo muito popular. No Brasil, as grandes questões são a segurança e o clima. Se está muito quente ou chovendo, o carro acaba sendo uma opção mais agradável. Então talvez uma solução sejam carros menores.
Temos duas soluções relativamente novas para o Brasil, o BRT e o VLT. Poderia falar um pouco delas?
Estes dois sistemas são ótimos. Mas não são flexíveis, não deixam o passageiro no seu destino final. Para ser uma opção ao carro, você precisa ter uma integração confortável e conveniente com outro sistema de transporte. O car sharing nas estações pode ser uma solução.
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O Rio também está investindo maciçamente em metrô, que seria uma solução em bairros como a Barra para fazer as pessoas abandonarem os carros. Isso na prática acontece?
Qualquer tipo de sistema de transporte de massa traz um benefício enorme e de alta eficiência na relação entre a distância e o tempo para percorrê-la. Isso ajuda, é claro, a reduzir o número de veículos nas ruas. Mas essa redução depende enormemente de uma integração inteligente com outros tipos de transporte de massa. E esta integração é especialmente importante no caso de sistemas de metrô. O raciocínio de quem usa o sistema é o seguinte: se o chamado “primeiro ou último quilômetro de viagem” (o caminho entre a estação e o destino final) for muito difícil, demorado, perigoso ou caro, o uso de metrô será menos frequente, e talvez um carro se torne mais atraente. Resumindo: um sistema de metrô, especialmente se alimentado com energia renovável, ajuda a diminuir o trânsito, mas apenas se estiver perfeitamente integrado a outros meios.
O quão vital é uma boa integração?
Mesmo quando você anda da estação até sua casa, isso é uma integração. Ainda há uma questão social que precisa ser levada em conta: a segurança pessoal. Uma das principais razões para as pessoas continuarem usando carros, apesar das opções, é a segurança. Elas se sentem mais seguras dentro de automóveis. Ou seja, não é só uma questão de tecnologia ou sustentabilidade ou economia. Há outros fatores.
O desafio então não é encontrar o modelo ideal, mas integrar modelos.
Este é um dos desafios. Mas, do ponto de vista da Shell, o desafio é ter vários modelos com tipos de energia diferentes. Provavelmente sairemos de um presente com dois ou três tipos de combustível para um futuro com seis ou sete.
O Rio também está investindo maciçamente em metrô, que seria uma solução em bairros como a Barra para fazer as pessoas abandonarem os carros. Isso na prática acontece?
Este é um dos desafios. Mas, do ponto de vista da Shell, o desafio é ter vários modelos com tipos de energia diferentes. Provavelmente sairemos de um presente com dois ou três tipos de combustível para um futuro com seis ou sete.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/bairros/...#ixzz3tqRmSUxO
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