Um mês após o Consórcio BRT ter ameaçado paralisar o corredor Transoeste na Av. Cesário de Melo, os ônibus continuam fazendo a ligação de Campo Grande a Santa Cruz. Mas as estações viraram terra de ninguém. A situação é pior nas imediações do Cesarão, onde duas foram fechadas após serem depredadas. Na quinta-feira, o EXTRA percorreu as 22 paradas do trecho, e em pelo menos em oito não encontrou bilheteiros. Havia apenas um controlador de acesso, cuja função é evitar que os passageiros pulem a roleta, mas eles dizem não ter como impedir a entrada dos caloteiros pelas laterais e, por medo de agressão, fazem vista grossa.
Na Cesarão 2, nem a catraca está lá. O equipamento quebrou e não foi trocado. A iluminação interna é garantida por uma gambiarra, com lâmpadas em bocais pendurados por um fio. Segundo passageiros, a ligação foi feita diretamente da fiação de um poste da rua, por ambulantes que montaram bancas no interior da estação.
— O BRT foi muito útil para a população. Agora, está abandonado. Quase ninguém paga a passagem, as estações não têm segurança, falta limpeza. Nesta, não há nem iluminação direito. Pegar ônibus à noite ou de madrugada é tenso — diz o mecânico Guilherme Abreu Lima, de 25 anos.
A bilheteira Paola Jennifer da Silva, de 23 anos, que trabalhou mais de um ano nas estações da Cesário de Melo e há um mês foi transferida para uma no Recreio, contou que as bilheterias foram fechadas por causa do alto índice de calotes. Nelas, só foram mantidos os terminais de autoatendimento.
— Mas quando as máquinas estão ruins, as bilheteiras têm de sair de onde estiverem — contou a funcionária.
Usuários se arriscam na frente dos veículos para subir pelas laterais, aproveitando que muitas portas de vidro foram arrancadas por vândalos. Funcionários fazem vista grossa.
— Tem que fingir que não vê. Afinal estou aqui todo dia e podem me pegar para fazer uma covardia — justificou um controlador de acesso.
Na Cesarão 3 e na Vila Paciência, desativadas, moradores dizem que o pouco que sobrou, como corrimãos e ferragens, é roubado. Mas moradores sonham com a reabertura.
— A gente ainda tem esperança que um dia elas voltem a funcionar — diz Priscila de Souza, de 30 anos, que, apesar de morar ao lado da estação Vila Paciência, quando precisa usar o BRT tem que caminhar cerca de 500 metros até a Três Pontes ou cerca de um quilômetro até a Cesarão 2.
Um prejuízo de R$ 800 mil com vandalismo
Segundo o consórcio, é impossível estimar quanto o grupo deixa de faturar por conta dos calotes, uma vez que os embarques ocorrem pelo lado exterior. Já o prejuízo mensal para manter as condições mínimas de operação do corredor no trecho, que atende 30 mil passageiros por dia, é de R$ 800 mil.
O BRT informou ainda que o risco operacional de que se feche o trecho com as 22 estações em curto prazo permanece. Sobre a falta de bilheteiro, o BRT esclareceu que decidiu deixar a máquina de autoatendimento funcionando”.
Com relação aos problemas da Cesarão 2, informou que a catraca de acesso de cadeirantes foi vandalizada. De acordo com o consórcio, funcionários são ameaçados e impedidos de fazer a manutenção dela.
Projeto prevê fiscais e multa para calote
No fim de novembro, a Câmara Municipal derrubou o veto do prefeito Marcelo Crivella e aprovou uma lei contra o calote no BRT, prevendo multa de R$ 170 para caloteiros. Entretanto, para entrar em vigor, a medida ainda precisa ser publicada e regulamentada. O vereador Felipe Michel (PSDB), autor da proposta, acredita que ela vá reduzir a ação dos vândalos.
— Além de inibir os caloteiros que hoje há principalmente na região que liga Campo Grande a Santa Cruz, que gira em torno de 80 mil passagens dia, o valor das multas também será revertido na melhoria do serviço de transporte público — diz, acrescentando que os fiscais que aplicarão as multas podem contribuir com o aumento da sensação de segurança nas estações e no seu entorno.
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